segunda-feira, 20 de agosto de 2012

CNSG - 2º ANO


Civilização Maia 
O povo maia habitou a região das florestas tropicais das atuais GuatemalaHonduras e Península de Yucatán (região sul do atual México). Viveram nestas regiões entre os séculos IV a.C e IX a.C. Entre os séculos IX e X , os toltecas invadiram essas regiões e dominaram a civilização maia.
Nunca chegaram a formar um império unificado, fato que favoreceu a invasão e domínio de outros povos. As cidades formavam o núcleo político e religioso da civilização e eram governadas por um estado teocrático.O império maia era considerado um representante dos deuses na Terra. 
A zona urbana era habitada apenas pelos nobres (família real), sacerdotes (responsáveis pelos cultos e conhecimentos), chefes militares e administradores do império (cobradores de impostos). Os camponeses, que formavam a base da sociedade, artesão e trabalhadores urbanos faziam parte das camadas menos privilegiadas e tinham que pagar altos impostos. 
cultura maia Arte e arquitetura: pirâmide da civilização maia
A base da economia maia era a agricultura, principalmente de milho, feijão e tubérculos. Suas técnicas de irrigação eram muito avançadas. Praticavam o comércio de mercadorias com povos vizinhos e no interior do império.
Ergueram pirâmides, templos e palácios, demonstrando um grande avanço na arquitetura. O artesanato também se destacou: fiação de tecidos, uso de tintas em tecidos e roupas.
A religião deste povo era politeísta, pois acreditavam em vários deuses ligados à natureza. Elaboraram um eficiente e complexo  calendário que estabelecia com exatidão os 365 dias do ano.
Assim como os egípcios, usaram uma escrita baseada em símbolos e desenhos (hieróglifos). Registravam acontecimentos, datas, contagem de impostos e colheitas, guerras e outros dados importantes.
Desenvolveram muito a matemática, com destaque para a invenção das casas decimais e o valor zero.

Civilização Asteca 
Povo guerreiro, os astecas habitaram a região do atual México entre os séculos XIV e XVI. Fundaram no século XIV a importante cidade de Tenochtitlán (atual Cidade do México), numa região de pântanos, próxima do lago Texcoco. 
A sociedade era hierarquizada e comandada por um imperador, chefe do exército. A nobreza era também formada por sacerdotes e chefes militares. Os camponeses, artesãos e trabalhadores urbanos compunham grande parte da população. Esta camada mais baixa da sociedade era obrigada a exercer um trabalho compulsório para o imperador, quando este os convocava para trabalhos em obras públicas (canais de irrigação, estradas, templos, pirâmides). 
Durante o governo do imperador Montezuma II (início do século XVI), o império asteca chegou a ser formado por aproximadamente 500 cidades, que pagavam altos impostos para o imperador. O império começou a ser destruído em 1519 com as invasões espanholas. Os espanhóis dominaram os astecas e tomaram grande parte dos objetos de ouro desta civilização. Não satisfeitos, ainda escravizaram os astecas, forçando-os a trabalharem nas minas de ouro e prata da região. 
cultura asteca Arte asteca e arquitetura: pirâmide da civilização asteca
Os astecas desenvolveram muito as técnicas agrícolas, construindo obras de drenagem e as chinampas (ilhas de cultivo), onde plantavam e colhiam milho, pimenta, tomate, cacau etc. As sementes de cacau, por exemplo, eram usadas como moedas por este povo.
O artesanato a era riquíssimo, destacando-se a confecção de tecidos, objetos de ouro e prata e artigos com pinturas. 
A religião era politeísta, pois cultuavam diversos deuses da natureza (deus Sol, Lua, Trovão, Chuva) e uma deusa representada por uma Serpente Emplumada. A escrita era representada por desenhos e símbolos. O calendário maia foi utilizado com modificações pelos astecas. Desenvolveram diversos conceitos matemáticos e de astronomia.
Na arquitetura, construíram enormes pirâmides utilizadas para cultos religiosos e sacrifícios humanos. Estes, eram realizados em datas específicas em homenagem aos deuses. Acreditavam, que com os sacrifícios, poderiam deixar os deuses mais calmos e felizes.

Civilização Inca
Os incas viveram na região da Cordilheira dos Andes (América do Sul ) nos atuais Peru, Bolívia, Chile e Equador. Fundaram no século XIII a capital do império: a cidade sagrada de Cusco. Foram dominados pelos espanhóis em 1532.
cultura inca pintura: arte inca
O imperador, conhecido por Sapa Inca era considerado um deus na Terra. A sociedade era hierarquizada e formada por: nobres (governantes, chefes militares, juízes e sacerdotes), camada média ( funcionários públicos e trabalhadores especializados) e classe mais baixa (artesãos e os camponeses). Esta última camada pagava altos tributos ao rei  em mercadorias ou com trabalhos em obras públicas.
Na arquitetura, desenvolveram várias construções com enormes blocos de  pedras encaixadas, como templos, casas e palácios. A cidade de Machu Picchu foi descoberta somente em 1911 e revelou toda a eficiente estrutura urbana desta sociedade. A agricultura era extremamente desenvolvida, pois plantavam nos chamados terraços (degraus formados nas costas das montanhas). Plantavam e colhiam feijão, milho (alimento sagrado) e batata. Construíram canais de irrigação, desviando o curso dos rios para as aldeias. A arte destacou-se pela qualidade dos objetos de ouro, prata, tecidos e jóias. 
Domesticaram a lhama (animal da família do camelo) e utilizaram como meio de transporte, além de retirar a lã , carne e leite deste animal. Além da lhama, alpacas e vicunhas também eram criadas.
A religião tinha como principal deus o Sol (deus Inti). Porém, cultuavam também animais considerados sagrados como o condor e o jaguar. Acreditavam num criador antepassado chamado Viracocha (criador de tudo).
Criaram um interessante e eficiente sistema de contagem : o quipo. Este era um instrumento feito de cordões coloridos, onde cada cor representava a contagem de algo. Com o quipo, registravam e somavam as colheitas, habitantes e impostos. Mesmo com todo desenvolvimento, este povo não desenvolveu um sistema de escrita. 

CNSG 2º ANO


Brasil: Descobrimento e Colonização
Os portugueses começaram sua expansão marítima no século XV, em busca de um caminho que os levasse por mar às riquezas e especiarias da Índia. Descobriram o Brasil e fundaram colônias ao longo de sua rota, nas costas africana e asiática.

Expansão comercial e marítima européia
A expansão européia constituiu um evento fundamental dos Tempos Modernos. Vários fatores condicionaram essa expansão: econômicos, sócio-políticos, religiosos e culturais.
• Econômicos: estagnação da economia européia (século XIV), estimulando assim a busca de novos mercados consumidores e fornecedores;
• Sócio-políticos: ascensão social da burguesia mercantil e fortalecimento do Estado-Nacional
• Religiosos: presença de ideais religiosos ainda resultantes das Cruzadas
• Culturais: aperfeiçoamento técnico dos instrumentos de navegação: bússola e astrolábio

Portugal
Portugal foi o pioneiro na expansão marítima. As razões do pioneirismo português:
• A posição geográfica favorável e os contatos com o mundo islâmico contribuíram para o desenvolvimento do comércio português
• Cresceu uma burguesia mercantil cada vez mais desejosa de expandir o comércio.
• Em 1383, atemorizada com o perigo de subordinação de Portugal a Castela (Espanha) a burguesia Mercantil portuguesa apoiou a chamada Revolução de Avis (1383-1385), liderada por D. João, Mestre de Avis. Portugal foi a primeira monarquia européia centralizada.

Espanha
• Espanha que só entrou na corrida em 1492 quando expulsou definitivamente os árabes de seu território (Guerra de Reconquista), optou pelo caminho da circunavegação.
• Cristóvão Colombo, navegador italiano, sob a bandeira da Espanha atingiu as Antilhas em outubro de 1492, encontrando um mundo povoado de povos variados, ricos impérios e culturas milenares.

Quem é o dono do mundo?
• Acirrou-se a disputa entre Portugal e Espanha sobre as terras do além-mar, disputadas palmo a palmo.
• Após a viagem de Colombo e a conseqüente descoberta de novas terras além mar, o Papa Alexandre VI (cardeal aragonês), em 1493 outorgou a Bula Intercoetera concedendo todos os privilégios anteriormente concedidos aos reis de Portugal aos reis católicos, garantido a posse das terras que ficassem além de um meridiano imaginário, traçado de pólo a pólo passando a 100 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde
• Mediante protestos do rei português D. João III em 1494 foi assinado o Tratado de Tordesilhas, pelo qual as terras a oeste de um meridiano situado a 370 léguas de Cabo Verde pertenceriam a Espanha e a leste a Portugal. Nunca se soube com precisão onde passava a linha imaginária de Tordesilhas.

Os fatos mais importantes na expansão portuguesa:
1383-85 Revolução de Avis
1415 Tomada de Ceuta
1488 Passagem pelo Cabo das Tormentas
1493 Bula Intercoetera
1494 Tratado de Tordesilhas
1498 Vasco da Gama chega às Índias
1500 Uma esquadra de caravelas e naus comandada por Pedro Álvares Cabral chega ao Brasil.

Período Pré-Colonial (1500-1530)
 • Pau-brasil
Durante os 30 primeiros anos do século XVI, Portugal praticamente abandonou a colônia brasileira. Dentro do esquema mercantilista, as terras ocupadas só tinham importância quando ofereciam produtos de alto valor comercial, a começar pelos metais preciosos. Aqui nada fora encontrado que valesse a pena para os interesses comerciais europeus, exceto o pau-brasil (Caesalpinia echinata), uma madeira vermelha tintorial, útil para a indústria têxtil e para as indústrias de móveis e de navios. Os índios chamavam a árvore de ibirapitanga.

O início da colonização
 A primeira expedição colonizadora, comandada por Martim Afonso de Souza, partiu de Lisboa em 1530. Trazia ferramentas, sementes, armas, algumas cabeças de gado e colonos (soldados, gente pobre, degredados, pequena nobreza lusas e nobres arruinados).
Vinha com uma tríplice missão:
• patrulhar as costas brasileiras e expulsar franceses;
• explorar as regiões do Maranhão até o Rio da Prata;
• povoar (fundação da primeira vila do Brasil, São Vicente, em 1532 e ocupação das terras de Piratininga) e iniciar o estabelecimento da agricultura açucareira (montagem do primeiro engenho de açúcar em S. Vicente, com investimento flamengo, chamado "Engenho do Governador”.

Capitanias Hereditárias
Para administrar a colônia foi criado, em 1534, o sistema de Capitanias Hereditárias, já experimentado nas Ilhas do Atlântico. O Brasil de então foi dividido em 15 faixas lineares, doadas a 12 capitães ¬donatários escolhidos entre a pequena nobreza portuguesa, comerciantes e burocratas ligados à Coroa (não se conseguiu 15 donatários dado o pouco interesse pela colônia).
O sistema dava aos donatários poderes políticos e administrativos, estabelecidos em documentos como a Carta de Doação e o Foral.
• A Carta de Doação assegurava a posse da capitania (hereditária),mas não a propriedade (não podiam vendê-la).
• O Foral estabelecia os direitos e deveres do donatário, definindo o que era reservado à Coroa e o que era a sua parte da renda, seus deveres na defesa da terra e no recolhimento dos tributos, o direito de conceder sesmaria, de fazer justiça e fundar vilas.
O sistema como um todo não progrediu à exceção das capitanias de Pernambuco e de São Vicente. A falta de recursos, o desinteresse, o tamanho do território, as distâncias e o isolamento teriam sido razões do fracasso. O sistema subsistiu, até sua transformação em capitanias reais pelo Marquês de Pombal, no século XVIII.

O Governo Geral
Foi criado, em 1548, o Governo Geral, com capital em Salvador.
As principais alterações foram:
• Centralização política,
• Diminuição do poder dos capitães-donatários
• Criação das Câmaras Municipais nas vilas.
Embora o governo geral tenha centralizado o poder político, este era efetivamente exercido localmente pelos grandes proprietários de terras nas Câmaras Municipais (municipalismo) representando os chamados "homens bons" nome dado àqueles que possuíam terras e escravos.

Açúcar
A economia colonial desenvolveu-se inicialmente em torno do açúcar. A escolha do açúcar não foi arbitrária nem ao acaso. Vários foram os fatores que contribuíram para transformar a cana no produto principal da produção colonial brasileira:
a) a existência de um mercado consumidor garantido e sem concorrentes:
b) condições ecológicas:
c) disponibilidade de mão de obra:
d) Associação a capitalistas holandeses

Plantation
Modelo de produção colonial baseado em gêneros agrícolas tropicais para o mercado externo, monocultura, grande propriedade de terra (latifúndio) e a mão-de-obra escrava.

O ouro e as cidades
Até a descoberta do ouro em Minas Gerais, no final do século XVII, a sociedade era rural e girava em torno do engenho de açúcar. Com o ouro, a vida passou a ser urbana. A partir de 1711, fundaram-se vilas, como Vila Rica, atual Ouro Preto, com ruas pavimentadas; casario; armazéns de mascates; oficinas de alfaiates, ferreiros, carpinteiros, sapateiros e pedreiros; e igrejas ricas e grandiosas, que viviam lotadas. Vila Rica, em meados do século XVIII, tinha cerca de 30 mil moradores. A média das cidades era de 2 a 3 mil pessoas. 

A sociedade açucareira
A colonização destinada a montar uma produção agrária escravista voltada para o comércio europeu produziu uma sociedade com as seguintes características:
• Bipolar
• Rigidez social
• Aristocrática:
• Patriarcal:
• Miscigenação:
• Sociedade rural e isolamento:
Decadente em função da concorrência com o açúcar produzido pelos holandeses nas Antilhas, o açúcar cede lugar ao apogeu do ouro no século XVIII, que interioriza mais a colonização.

Mineração
• A descoberta de Ouro nas Minas Gerais ocorreu numa época de grande crise econômica em Portugal e no Brasil.
• A mineração promoveu o deslocamento para a região das minas populações vindas de todo canto de Portugal e do Brasil
• O eixo econômico e administrativo deslocou-se para o centro-sul.
• A capital da colônia foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro (1763),
• Ocorreu o crescimento do mercado interno.
• Criação de um comércio inter-regional que articulou regiões distantes, como o nordeste e o sul do país.

Na mineração existiam:
• faisqueiras : pequenas e médias unidades - - exploradas por pequenos mineradores e poucos escravos.
• Lavras: grandes empresas - - constituídas pelos grandes mineradores nas quais trabalhava um grande número de escravos (50 a 100).

Intenso controle econômico, político e administrativo da colônia. A Coroa portuguesa montou pesado esquema de fiscalização e tributação
• Capitação (por cabeça de escravos)
• Quinto A quinta parte do ouro encontrado
• Criou a Casa da Fundição para onde era levado o ouro para ser purificado.
• Derrama - cobrança forçada do quinto atrasado.

A sociedade mineradora
A mineração apresentou desde o início diferenças em relação á lavoura açucareira.
• A sociedade se diferenciou.
• O desenvolvimento do comércio e do mercado interno, das cidades e da vida urbana, possibilitou a existência de camadas médias urbanas formadas por comerciantes, artesãos, profissionais liberais, funcionários públicos, militares, padres. letrados.
• Com a diversificação e maior mobilidade social, houve uma relativa permeabilidade na estratificação social e a possibilidade de alguns escravos comprarem a sua alforria.
• Os escravos continuavam a ser a base da sociedade e numericamente predominantes.
• A vida urbana se desenvolveu e junto com ela os serviços, as artes e a cultura - destacadamente as artes plásticas, a música e as letras.

A decadência
Deveu-se ao esgotamento das minas (ouro de aluvião) e à deficiência das técnicas empregadas na mineração.
Sem o ouro brasileiro, a crise econômica portuguesa aprofundou-se.

O ouro servira para:
• sustentar os gastos da monarquia
• pagar as muitas dívidas com a Inglaterra advindos de empréstimos, importações e do Tratado de Methuen.

Tratado de Methuen
Também conhecido como “Panos e Vinhos” assinado em 1703 , foi responsável pela transferência do ouro brasileiro para a Inglaterra em plena Revolução Industrial. 
  

“As colônias não podem esquecer jamais o que devem à mãe-pátria pela prosperidade de que desfrutam. Devem, por conseqüência: dar à metrópole maior mercado aos seus produtos, dar ocupação ao maior número de seus manufatureiros, artesãos e marinheiros; fornecer uma maior quantidade de artigos que ela precisa."
Postlethwayt (1747)

COLONIZAÇÃO: VISÃO GERAL


A descoberta do Brasil foi apenas um dos episódios que marcaram o grande movimento expansionista ibérico dos séculos XV e XVI e que permitiram a esses países o controle de vastas regiões da Ásia, África e América. Embora a exuberância natural de sua conquista americana entusiasmasse os portugueses, parecendo suficientemente promissora para justificar as renhidas disputas e controvérsias mantidas com os espanhóis, os melhores esforços lusitanos permaneceram voltados sobretudo para o Oriente, cuja riqueza acenava com a satisfação imediata de seus anseios.
Assim, nas três primeiras décadas após o descobrimento, o Brasil viu-se relegado a uma posição bastante secundária no Império Colonial Português. Frustrada a expectativa de obtenção de riquezas minerais que o sucesso espanhol havia alimentado, o pau-brasil apresentou-se como único produto passível de encontrar aceitação lucrativa no mercado internacional. Sua exploração, arrendada a comerciantes portugueses, foi organizada no sistema de feitorias fortificadas que se instalavam ao longo do litoral, aproveitando a mão-de-obra indígena.
A partir do século XVI, com França, Holanda e Inglaterrra emergindo no cenário europeu como novas potências marítimas, a hegemonia ibérica e seus domínios coloniais viram-se gradativamente ameaçados. No caso especifico do Brasil, a cobiça desses estrangeiros era aguçada pela vulnerabilidade do território frente à imensidão da costa e ao isolamento das feitorias, meros entrepostos comerciais.
Vendo seus interesses prejudicados pelo constante comércio clandestino de pau-brasil (efetuado sobretudo por franceses) e reconhecendo a insuficiência das expedições guarda-costas, a Coroa portuguesa decidiu, em 1530, fomentar a ocupação efetiva das terras brasileiras. O sistema de Capitanias Hereditárias, ou Donatárias, utilizado já no povoamento das ilhas atlânticas, parecia então a melhor maneira de solucionar a questão, sem comprometer o erário régio.
O regime de Capitanias permitiu maior proteção do território, o assentamento das primeiras povoações, o desenvolvimento de novas formas de exploração econômica e o surgimento de uma aristocracia territorial dotada de amplos poderes sobre as populações locais. Contudo, nem todos os donatários mostraram-se dispostos á aventura de ocupar suas terras na América e, os que fizeram, viram-se assoberbados pela magnitude de um empreendimento que freqüentemente superava as forças de que dispunham.
A partir de 1548, a Coroa passou a intervir diretamente na administração da colônia, criando, com o Governo-Geral, um centro de unidade que se opunha ao caráter dissolvente das Capitanias, medida essa acompanhada de uma minuciosa regulamentação dos direitos reais, em consonância com as práticas mercantilistas então vigentes.
Assim, os interesses metropolitanos eram assegurados por uma estrutura jurídico-administrativa que até certo ponto mesclava-se e sobrepunha-se ao poder local, este controlado por uma elite latifundiária que encontrava nas Câmaras Municipais um vigoroso instrumento para ampliar o seu espaço de atuação. Além disso, a complexa dinâmica que se estabeleceu nas relações entre essas duas instâncias privilegiadas de poder e os interesses por elas defendidos tornava às vezes muito difícil fixar com clareza os limites do domínio público e os do privado.
Nos séculos seguintes da colonização, o sistema político-administrativo aqui implantado na primeira metade do século XVI sofreu algumas alterações, sem trazerem, no entanto, transformações que rompessem com o sistema de dominação vigente ou com os ideais que o haviam orientado.
"São tão grandes as riquezas deste novo mundo e da mesma maneira sua fertilidade e abundância, que não sei por qual das coisas comece primeiramente; mas [...] de todas estas coisas o principal nervo e substância da riqueza da terra é a lavoura dos açúcares. "

Ambrósio Fernandes Brandão (1618).

A colonização efetiva do Brasil assentou-se em estruturas que objetivavam promover os interesses comerciais portugueses. Para tal, impunha-se a concentração de recursos e investimentos que mobilizassem a produção em larga escala, de um produto com ampla aceitação no mercado internacional e que pudesse propiciar grandes lucros, os quais deveriam, naturalmente, reverter em beneficio da metrópole.
Instalou-se assim um sistema produtivo baseado no latifúndio monocultor, agroexportador, e no trabalho compulsório. Os interesses do tráfico negreiro, aliados às dificuldades de aproveitamento da mão-de-obra indígena local, impuseram a escravidão africana como a relação de trabalho dominante, ao passo que os altos preços alcançados, as condições favoráveis de cultivo e a experiência anteriormente adquirida pelos portugueses na sua produção tornaram o açúcar o produto ideal para a empresa colonizadora.
A montagem da indústria açucareira era um empreendimento dispendioso, que envolvia altos custos e grande margem de riscos, exigindo esforços conjugados da Coroa lusitana e de particulares; cabiam aos últimos, porém, os maiores encargos pela implantação do sistema, que contou ainda com ativa participação de capitais holandeses.
Embora fosse intentada inicialmente ao sul da colônia, condições mais favoráveis de cultivo e comercialização motivaram logo o deslocamento do centro de produção para litoral  nordestino, transformado assim no núcleo de toda a vida colonial.
Por mais de um século e meio a produção do açúcar representou praticamente a única base de sustentação da economia brasileira e, na medida em que absorvia as atenções e recursos, isto significou também a marginalizado e o abandono a que se viram relegadas as demais culturas e regiões que, quando não sucumbiam, vegetavam à sombra do "Mundo do Açúcar".
A natureza e a dinâmica do sistema colonial produziram também aqui uma sociedade que, permeada em todos os níveis pela relação senhor-escravo, tendia a polarizar-se, desenvolvendo um caráter marcadamente hierárquico, aristocrático e patriarcal.
Os senhores de engenho formavam a camada privilegiada dessa sociedade; seu poder ultrapassava os limites do círculo doméstico, atingindo freqüentemente extensa clientela. A esses "homens-bons", como eram então denominados, cabia também o privilégio de atuar nas Câmaras Municipais, importante instrumento da política local.
Por mais poderosa que fosse, no entanto, essa aristocracia canavieira mantinha-se presa às malhas do sistema: devia submeter-se à orientação econômica e administrativa da metrópole (cujos interesses nem sempre se harmonizavam com os seus) e confinar-se, em última instância, á sua função colonial. Também relativamente pequena era a sua participação nos lucros da empresa açucareira, carreados em sua maior parte para Portugal e, sobretudo, para a Holanda, responsável pelo refino e distribuição do açúcar nas praças européias.
O século XVII marcou o apogeu e também a decadência dessa economia, estando ambos os fenômenos intimamente relacionados ao que se convencionou chamar a "Guerra do Açúcar". De fato, a grande importância assumida pelos lucros oriundos da comercialização desse produto ficou evidenciada pela ocupação flamenga do nordeste açucareiro (1630-1654), movimento esse que, inserido num processo mais amplo de disputas internacionais (independência dos Países Baixos, lutas pela hegemonia na Europa e pela expansão colonial de novas potências), encontrou sua motivação imediata nos entraves que a União Ibérica (1580-1640) estabelecia à participação holandesa no comércio açucareiro.
Livres da intermediação portuguesa, submetendo diretamente algumas das principais áreas de produção açucareira no Brasil, os holandeses puderam controlar todo o processo de fabricação, beneficiamento e distribuição do produto; a aplicação de capitais e de algumas melhorias técnicas permitiram-lhes também elevar consideravelmente a produtividade, de modo que, em meados do século XVII, o "Brasil Holandês" transformara-se no maior produtor mundial de açúcar e a rentabilidade dessa empresa alcançara níveis nunca antes atingidos. Apesar disso, e de fomentar um breve surto urbanistico-cultural na região, o domínio flamengo não trouxe transformações significativas ou duradouras à vida colonial brasileira, preservando aquelas estruturas fundamentais que a vinham sustentando havia mais de um século.
Com a Restauração lusitana (1640) e a expulsão definitiva dos holandeses (1654), a economia açucareira do nordeste brasileiro entrou num continuo processo de crise e decadência. A União Peninsular legara a Portugal uma situação econômica desastrosa, acentuada pela perda de vastas áreas de seu Império Colonial. Por outro lado, ao deixarem o Brasil os holandeses dispunham de capitais, conhecimento e experiência que tomaram possível a implantação e o desenvolvimento de uma indústria açucareira em suas colônias antilhanas, concorrendo em condições muito mais favoráveis que as do produto brasileiro no mercado internacional.
Mesmo assim, o tripé - latifúndio, monocultura exportadora e escravidão - manteve-se como elemento fundamental de nossa economia até finais do século XIX, sobrevivendo mesmo, em certos aspectos, até hoje.

Documentos
Estímulos ao povoamento
Os imperativos mais amplos da colonização exigiam que o Brasil fosse rapidamente povoado por portugueses, necessidade que levou a Coroa a fomentar de diversas formas esse povoamento, recorrendo mesmo aos elementos considerados indesejáveis na sociedade metropolitana.

a] “Ordenou o dito senhor que daí em diante as pessoas que, por seus malefícios, segundo as ordenações, houvessem de ser degredadas para a ilha de S. Tomé, pelo mesmo tempo fossem degredadas para o Brasil.” (Alvará de 31/05/1535)
b] “Ordenou o dito senhor que os moços vadios de Lisboa, que andam na ribeira a furtar bolsas e fazer outros delitos, a primeira vez que fossem presos, se depois de soltos tornassem outras vez a ser presos pelos semelhantes casos, que qualquer degredo que lhe houvesse de ser dado fosse para o Brasil.” (Alvará de 06/05/1536)