quinta-feira, 9 de junho de 2011

DOCUMENTÁRIO 8º ANO

A GUERRA DE SECESSÃO

O intenso crescimento territorial dos Estados Unidos na primeira metade do século XIX, acompanhado de um rápido aumento da população, com muitos imigrantes europeus atraídos pela facilidade de adquirir terras, tornava ainda mais flagrante, o contraste entre o desenvolvimento do norte e o atraso do sul.

No norte, o capital acumulado durante o período colonial, criou condições favoráveis para o desenvolvimento industrial cuja mão-de-obra e mercado, estavam no trabalho assalariado. A abundância de energia hidráulica, as riquezas minerais e a facilidade dos transportes contribuíram muito para o progresso da região, que defendia uma política econômica protecionista. Já o sul, de clima seco e quente permaneceu atrasado com uma economia agro-exportadora de algodão e de tabaco, baseada no latifúndio escravista. Industrialmente dependente, o sul era franco defensor do livre-cambismo, caracterizando mais um contraponto com a realidade do norte.

O Acordo de Mississipi em 1820 proibia a escravidão acima do paralelo 36º40'. Em conseqüência, o presidente Monroe, que assinara o tratado, foi homenageado com a denominação de "Monróvia", para capital do Estado da Libéria, fundado na África em 1847, para receber os escravos libertados que quisessem voltar à sua terra. Em 1850 foi firmado o Compromisso Clay, que concedia liberdade para cada Estado da federação decidir quanto ao tipo de mão-de-obra.

Em 1852, Harriet Beecher Stowe publicou a romance abolicionista A Cabana do pai Tomás, que vendeu 300 mil cópias só no ano de sua edição, sensibilizando toda uma geração na luta pelo abolicionismo. Dois anos depois surgia o Partido Republicano, que abraçou a causa do abolicionismo.

Em 1859, um levante de escravos foi reprimido na Virgínia e seu líder John Brow foi enforcado, transformando-se em mártir do movimento abolicionista. No ano seguinte, o ex-lenhador que chegou a advogado, Abraham Lincoln, elegeu-se pelo novo Partido Republicano. O Partido Democrata, apesar de mais poderoso, encontrava-se dividido entre norte e sul, o que facilitou a vitória de Lincoln, um abolicionista bem moderado que estava mais preocupado com a manutenção da unidade do país. Em campanha Lincoln teria afirmado que "Se para defender a União eu precisar abolir a escravidão, ela será abolida, mas se para defender a União eu precisar manter a escravidão, ela será mantida". Apesar da questão do escravismo ser apenas secundária para Lincoln, o mesmo era visto pelos latifundiários escravistas do sul como um verdadeiro revolucionário.

A eleição de para a presidência dos Estados Unidos aborreceu os sentimentos dos dirigentes políticos dos estados do sul, cuja economia se baseava na cultura intensiva com recurso sistemático à mão-de-obra escrava. No seu discurso de tomada de posse, Lincoln reafirmara o propósito de preservar a unidade da nação americana, colocando à parte a idéia de forçar a abolição do sistema escravagista. Tal atitude não foi suficiente para tranquilizar os elementos mais radicais dos estados do sul, que se constituíram numa Confederação que se separou da União e desencadeou operações militares contra as tropas desta, estacionadas em Fort Sumner (12 de Abril de 1861).

O conflito deste modo desencadeado foi favorável à Confederação durante o primeiro ano de guerra, mas a situação inverteu-se a partir da primavera de 1862, terminando com a derrota militar da Confederação sulista. O Norte, dirigido por Lincoln, dispunha de vantagens significativas, de entre as quais se devem destacar as seguintes:

- Uma população mais numerosa, na ordem dos 22 milhões de habitantes, contra os 9 milhões do sul, dos quais pelo menos um terço eram escravos;
- Agricultura apta a produzir gêneros alimentícios em quantidade e variedade capaz de alimentar não apenas a população civil mas ainda as tropas na frente de combate, enquanto a produção agrícola do sul se limitava a gêneros de exportação, não comestíveis, como o algodão;
- Forte capacidade industrial, aproximadamente cinco vezes superior a do Sul, incluindo o exclusivo quase completo da indústria de armamento.

Enquanto Lincoln colocava a tônica no desiderato de defender a União, recusando ao Sul o direito de se separar do todo nacional, o Sul insistia no seu direito à independência. A questão da escravatura foi assim ficando secundarizada e só voltou ao primeiro plano quando Lincoln (num momento em que se podia já prever a derrota da Confederação, embora à custa de grandes sacrifícios) decidiu introduzir um novo elemento dinamizador da opinião pública do Norte, que simultaneamente funcionasse como fator de desencorajamento da opinião pública do Sul. Fê-lo assinando, em 22 de setembro de 1862, a Proclamação de Emancipação dos escravos, na qual se estipulava que os escravos que vivessem no território da Confederação passariam a ser pessoas livres a partir de 1º de Janeiro seguinte. Deu assim uma grande satisfação ao movimento abolicionista, em cujas preocupações a abolição da escravatura ocupava o primeiríssimo lugar, mudando deste modo o sentido da guerra. A partir deste momento, a guerra trava-se com dois objetivos, um de carácter político (a preservação da unidade nacional) e outro de natureza social (o fim da escravatura), este último com fortes implicações na economia do país.

Passada a primeira fase vitoriosa da guerra, o Sul rapidamente compreendeu que não poderia sair vencedor, mas nem por isso diminuiu o seu esforço bélico. As suas tropas bateram-se sempre com extrema bravura até a rendição final, em 9 de abril de 1865. A batalha mais feroz foi certamente a de Gettysburg (ilustração abaixo), travada durante três dias, com um balanço final superior a cinqüenta mil mortos. Para homenagear os caídos em combate, Lincoln pronunciou um breve discurso, em 19 de maio de 1863, no qual acrescentou uma outra dimensão à guerra - a defesa da democracia, definida como "o governo do povo, pelo povo e para o povo".


A Guerra Civil Americana, também denominada Guerra da Secessão, produziu maior número de baixas que qualquer outro conflito em que os Estados Unidos se envolveram. Contaram-se mais de 600.000 mortos e metade do país ficou em ruínas. A reconstrução da economia do país (especialmente a do Sul) foi penosa e longa. A unidade nacional foi preservada, e a abolição da escravatura, proclamada por Lincoln, foi pouco depois consagrada na Constituição (13ª Adenda). O próprio Lincoln caiu vítima de um atentado perpetrado por um radical sulista. Os negros, agora livres, integraram-se no mercado de trabalho como assalariados, mas encontraram enormes dificuldades na conquista da igualdade real. As perseguições brutalíssimas por parte de organizações racistas como o Klu Klux Klan e as discriminações de várias ordens (no direito eleitoral, no mercado de emprego, no acesso ao ensino e à habitação etc.) de que foram vítimas só foram eficazmente combatidas por um amplo movimento social encabeçado por Martin Luther King Jr., na década de 60 do século passado.

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