terça-feira, 7 de junho de 2011

Bullying: problema real

Encarado como um problema grave e universal, o bullying começa a se transformar também em um objeto de um número cada vez maior de estudos e pesquisas. Confira nossa nova matéria e participe dos debates na rede!

Recentemente, o termo inglês "bullying" foi incorporado com sucesso ao vocabulário de professores, coordenadores pedagógicos e estudantes de todo o Brasil. O conceito, derivado da palavra “bully” (valentão, em português), pode ser definido como qualquer atitude agressiva (física ou emocional) exercida por um ou mais indivíduos, tendo como finalidade a intimidação, humilhação ou agressão da vítima. O assunto, no entanto, embora incorporado à agenda pedagógica brasileira, está longe de ser conhecido em suas especificidades. Por muito tempo, a prática do “bullying” foi subestimada ou mesmo ignorada por professores, pais e especialistas em educação. Esse cenário só mudou nos últimos anos, quando pesquisadores e os meios e comunicação passaram a publicar estudos que mostravam que esse tipo de violência é muito mais antiga, universal e danosa do que se imaginava.

Em 2011, a discussão sobre “bullying” foi intensificada com os trágicos acontecimentos ocorridos no dia 7 de abril, na Escola Municipal Tasso da Silveira, localizada no bairro de Realengo, Rio de Janeiro. Na ocasião, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, entrou armado nas dependências da escola e disparou contra diversos alunos . No total, doze pessoas foram mortas. Wellington – um ex-aluno da escola – cometeu suicídio em seguida. Dias depois, as autoridades descobriram vídeos e uma carta do atirador, no qual ele dava como justificativa as agressões sofridas por ele em sua época de estudante. A justificativa dividiu os especialistas, provocou polêmicas na esfera pública, mas independente do que se disse a respeito, o “bullying” consolidou-se de vez como uma questão verdadeiramente nacional.

O que motiva o comportamento agressivo de certos adolescentes ainda não é algo totalmente conhecido. Muitos educadores, porém, acreditam que o fenômeno pode estar intimamente associado à maneira como as diferenças no ambiente escola (físicas, sociais, materiais, emocionais, até mesmo verbais) são conhecidas e enfrentadas pelos alunos. A escola, por excelência, é a primeira experiência do ser humano com a sociedade não-familiar. É na escola que a criança se depara pela primeira vez com o diferente, com o assimétrico. Quando este contato não é positivo, pode haver dano à sociabilidade, algo que é potencializado durante a adolescência, quando o jovem está em pleno processo de construção identitária. É neste momento que pode ocorrer o comportamento agressivo e/ou de submissão à agressão do outro.

É preciso dizer, no entanto, que a escola não é a única explicação para o problema. O “bullying” também pode estar relacionado a traumas pessoais bastante específicos, problemas familiares ou ainda a insucessos (de aprendizagem ou de relacionamentos) da criança e do adolescente no decorrer de sua formação. Isso, porque a prática do “bullying” quase sempre está associada à necessidade de afirmação social, à necessidade de retomar um equilíbrio perdido ou nunca alcançado. Uma pesquisa da Universidade da Califórnia publicada no American Sociological Review concluiu que o "bullying" é praticado como uma forma de ganhar popularidade, sendo seus principais alvos garotos com status médio ou alto entre seus colegas. No total, foram ouvidos 3.722 alunos dos últimos anos do ensino fundamental de três condados no Estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.

Pesquisas ajudam a entender melhor o fenômeno

Com a calorosa discussão pública sobre o “bullying”, os pesquisadores brasileiros vêm se dedicando cada vez mais ao estudo do fenômeno. E não se trata apenas de pesquisadores da área da educação. De muitas formas, o assunto vem sendo visto também como uma questão na área de saúde. Prova disso, é o livro "Bullying - mentes perigosas nas escolas", da médica Ana Beatriz Barbosa Silva. O livro se tornou um verdadeiro best-seller ao vender mais de 400.000 cópias no Brasil. No livro, Ana Beatriz faz um inventário de vários tipos de violência e mostra como esta prática está associada à desigualdade de poder ou também à baixa auto-estima.

As pesquisas mostram outros aspectos interessantes do problema. Os próprios alunos estão preocupados com o "bullying". Pelo menos é que aponta um estudo da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.Entre os meses de janeiro de 2008 e janeiro de 2010, 20% das dúvidas no Disque-Adolescente eram sobre dificuldades de relacionamento na escola por causa do bullying.Dúvidas sobre anticoncepção também são freqüentes, respondendo por 33,2% das ligações feitas ao serviço.Sexualidade responde por 19,2% e obstétricas, 21,2%.

Outra pesquisa sobre o tema derruba um mito: o de que o "bullying" está atrelado a uma determinada classe social. Quem desmente esse tipo de avaliação é um estudo apresentado nesta segunda-feira pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas pela Infância, realizado em parceria com a FLACSO (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, na Argentina. De acordo com o trabalho "Clima, conflitos e violência na escola", diferentemente do que se imaginava, os estudantes das classes mais vulneráveis socialmente não são necessariamente os mais violentos nas escolas.Nas escolas privadas pesquisadas, 13,2% dos alunos disseram que já foram alvos da crueldade de seus companheiros e 15,1% foram satirizados por alguma característica física. Já nas públicas da pesquisa, esses números são de 4,3% e 12,9%, respectivamente.

No Brasil, por sua vez, o IBGE preparou uma espécie de "mapa do bullying". Segundo o estudo do órgão, Brasília está no primeiro lugar na prática de "Bullying". 35,6% dos estudantes entrevistados do DF disseram ser vítimas constantes da agressão. Belo Horizonte, em segundo lugar com 35,3%, e Curitiba, em terceiro lugar com 35,2 %, foram, junto com Brasília, as capitais com maior freqüência de estudantes que declararam ter sofrido bullying alguma vez.

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